O AVENÇADO FANCELLI
Não me pronuncio publicamente sobre
pessoas com quem trabalho e/ou partilho o espaço televisivo, mesmo quando não
lhes reconheço conhecimento nem idoneidade intelectual para se pronunciarem
sobre o que falam. O que penso sobre elas fica comigo. É uma prática que vigora
no meio militar (pelo menos vigorava) e noutras organizações com um elevado
sentimento corporativo. Não fica bem trazer divergências para a praça pública. São
questões de decoro e normas de boa convivência. Há regras e linhas vermelhas
que não estão escritas, mas que as boas práticas aconselham a adotar.
Mas, volta não volta, tenho de
abrir exceções, fazendo-o sempre contrariado. O que tem de ser tem muita força.
O jovem Uriã Fancelli teve no domingo passado (12JUL25) mais uma diatribe. Na
primeira vez que interagimos, acusou-me de desonestidade intelectual, apenas
por eu ter uma opinião diferente da sua. Nessa altura, esbocei um sorriso e
fingi que não percebi. Mas desta vez, quando Fancelli disse “omite [eu] as
baixas russas não sei se intencionalmente ou por uma simpatia russa. Todo o
mundo sabe que o Major General tem… mas ele [eu] omite intencionalmente os
ataques contra as estruturas civis na Ucrânia”, não podia fingir que não tinha
percebido.
Depois de ter levado dois
tareões no ringue de boxe, Fancelli foi refugiar-se nas redes sociais, queixando-se
aos amigos do mau que fui para ele. Fancelli engrossa a lista daquela malta que
não consegue debater sem ataques ad hominem e sem lhes fugir o pé para a
chinela. Lá tive de consumir o meu rico tempo e ir ver quem é o Dr. Fancelli e
o que faz na vida. Chamei-lhe propagandista e não é que acertei em cheio?! Tem
de ficar claro que Fancelli não é uma pessoa independente. É um avençado dos
ucranianos. Não é uma virgem imaculada. E porquê?
Não é grave nem condenável ser
avençado e/ou propagandista. Tem é de se saber exatamente quem são as pessoas
que proliferam no espaço público, o que fazem e o que se pode esperar delas. Fancelli
não é isento, tem uma agenda e é pago. Anda a fazer pela vida. Tem de mostrar
serviço ao patrão. Veio sociabilizar-se à Europa, onde frequentou dois
mestrados. Trabalha para o Kyiv
Independent, um jornal que não é bem o jornal oficial do
governo ucraniano, mas anda lá próximo, que de independente só tem o nome, para
além de ter sido subsidiado pela USAID. Utiliza esse fórum para apelidar a visita do
presidente do seu país Lula da Silva à Rússia de hipócrita. Não é, pois,
difícil de perceber para quem trabalha. Diz-me com quem andas dir-te-ei quem
és.
No final de 2022, quando já
tinham passado alguns meses sobre o início da guerra na Ucrânia, o Dr. Fancelli
tentava a sua sorte na carreira política, candidatando-se a deputado estadual, no
Brasil, pelo partido PODE, um partido conservador de direita/extrema-direita (criado pelo juíz Sérgio Mouro para se candidatar à presidência). Gorada a
entrada na vida política mudou a agulha para outra coisa que estivesse a dar e
lhe proporcionasse sustento. Afinal tem de pagar a conta da água e da luz. E que
tal tornar-se, num ápice, especialista na guerra da Ucrânia?! Era capaz de ser
um emprego interessante.
Como qualquer propagandista que
se preze tem presença em várias redes sociais (Instagram, “X”,
etc.). A sua grande razão de estar na vida é tentar contrariar quaisquer
versões dos acontecimentos, que ele suspeite integrarem uma campanha de “desinformação
russa”. Para isso, pagaram-lhe a participação na segunda
conferência Internacional Crimeia Global, em Kiev, organizada pela anedótica
“Missão do Presidente da Ucrânia na República Autónoma da Crimeia”, apadrinhada
e com o apoio da Embaixada da Ucrânia no Brasil, com a qual mantém excelentes relações, e onde parece não faltar dinheiro para pagar a viagem de 28
“especialistas” brasileiros a Kyiv, numa operação de diplomacia pública, ou se
quisermos para uma operação de lavagem ao cérebro.
Nessa ida ao “teatro de
operações”, não perdeu a oportunidade de tirar uma selfie com
um ar guerreiro e profundamente agastado com a situação em que vive o povo
ucraniano.
Por falar em desinformação
russa. O paladino da informação honesta e verdadeira, de nome Fancelli,
regurgitou os números fantasiosos de soldados russos mortos no campo de batalha
por metro quadrado (nunca tinha ouvido falar desta métrica), sem nunca
referir quantos ucranianos morreram. Se calhar não morrem. Combate-se a desinformação russa dizendo quantos
soldados russos morrem, mas omitindo os mortos ucranianos. Isso é que
informação verdadeira, honesta e rigorosa.
Chateia-me ser confundido com
a causa russa apenas por desmontar as falsidades e as mentiras da propaganda
ucraniana, com que somos bombardeados permanentemente. Os russos fazem
operações de desinformação? Claro que fazem. E os ucranianos também. Parece-me
normal. Seria anormal se isso não acontecesse. Era sinal de incompetência. Afinal a verdade é, e sempre foi, a primeria vítima da guerra.
Mas poupe-nos Dr. Fancelli e não venha dar
uma de “impoluto”, de virgem ofendida e defensor de uma superioridade bacoca. Deixe de nos mandar areia para os olhos e dizer que só os maus é que fazem desinformação.
Dá-se a casualidade de eu estar mais sujeito à desinformação ucraniana, de que
Fancelli é um promotor e um veículo, por viver em Portugal. Talvez por isso, o meu desconforto. É chato andar a ser enganado, não gosto. Fancelli devia ganhar
juízo e deixar de se armar aos cágados. Fancelli é pago para fazer
propaganda da causa ucraniana. Como atrás referi, não faço juízos de valor sobre
as suas opções, mas tem de o assumir. Assuma-se, porra, não tenha medo! Poupava-me trabalho. Ainda Fancelli não sabia apontar no mapa onde ficava a Rússia (tem trinta e quatro aninhos),
já eu tinha reuniões de trabalho com o general Gerasimov, o atual CEMGFA russo.
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