terça-feira, 19 de setembro de 2023

OS GRUNHOS

 

Um grunho é uma pessoa rude ou grosseira. O termo tem origem etimológica no verbo grunhir. Pode ser empregue para apelidar um indivíduo bronco, descortês, básico, pouco sofisticado. São normalmente pessoas de ação e pensamento, por esta ordem, consumindo normalmente as todas energias no primeiro ato, sobrando-lhe poucas ou nenhumas para o segundo. Esse tipo de criatura prolífera nalgumas redes sociais que se transformaram em autênticas pocilgas, onde é permitido tudo e mais alguma coisa.

Quando disse na CNN Portugal que o acidente com um míssil ocorrido no mercado de Kostiantynivka, no dia 6 de setembro de 2023, tinha mais probabilidades de ter origem ucraniana do que russa fui crucificado por uma série de grunhos com os epítetos costumeiros, apesar de estar convicto de que o acidente tinha autoria ucraniana, e de apresentar o caso apenas no campo das probabilidades.  Acontece que o New York Times veio repetir exatamente a minha análise. Seria demasiado pedir a um grunho que se retratasse e pedisse desculpas, uma vez que se encontra pouco apetrechado intelectualmente para o fazer. Mas, apesar disso, não deixa de fazer sentido deixar aqui este apontamento.



 

 


domingo, 17 de setembro de 2023

TESOURINHOS DEPRIMENTES (4)

 

A “Página Um” noticiou, posteriormente confirmado por outras vias, que uma empresa dedicada à publicação de periódicos, pomposamente designada por “Trust in News” (TN), nome altamente sugestivo, liderada por Luís Delgado deve 11,4 milhões ao Fisco. A Dr.ª Mafalda Anjos diretora da Visão, um dos periódicos da TN, quando abordada sobre o tema, fazendo jus à “confiança nas notícias” que difunde (é especialista em matéria de rigor informativo) apelidou esses “relatos” de fantasiosos. Afinal não são!

Dá-se a coincidência de Luís Delgado e Mafalda Anjos serem comentadores televisivos, ele na SIC Notícias e ela na CNN Portugal. Na televisão explicam e sabem tudo. Não têm dúvidas, só certezas. Estão num pedestal de sapiência e conhecimento. São uns educadores. Mas quando têm uma oportunidade de mostrar aos incultos, pelo exemplo, como se faz, falham redondamente. Sabem criticar tudo e mais alguma coisa, mas não sabem gerir as empresas que dirigem. Sabem como se resolvem os problemas dos outros, mas têm dificuldade em resolver os seus. Afinal aquilo na televisão é só verborreia para inglês ver. “Com um capital social de apenas 10 mil euros, a TN já conta com um passivo de mais de 27 milhões de euros, dos quais 42% são calotes ao Estado, e detém ativos de valor muito dúbio.” Mas afinal qual a autoridade destas pessoas para virem perorar?! Abstraindo-nos de outros aspetos pouco claros relatados na notícia da “Página Um”, será que depois disto ainda têm lata de vir para a televisão comentar?! Não se enxergam?! Acham que vamos acreditar nas larachas que debitam? Vá lá, uma gotinha de pudor… se puderem. A arraia-miúda agradece.

domingo, 3 de setembro de 2023

TESOURINHOS DEPRIMENTES (3)

 

UM ALDRABÃO CHAMADO JOSÉ ANTÓNIO SARAIVA



Do seu refúgio de oração, o Arq. José António Saraiva (AS) decidiu vir meter-se novamente comigo. Conhecemos-lhes a veia voyeurista, algo em que ele parece ser mesmo bom. Por tornar público aquilo que lhe disseram em segredo andou a contas com a justiça. Talvez caldeado por essa experiência negativa se tenha tornado mais cauteloso. Desta feita, decidiu acusar-me de espião, mas sub-repticiamente para não vir a ser mais uma vez “entalado” judicialmente. Fê-lo de modo cauteloso.

AS veio insinuar dissimuladamente que sou um espião, um infiltrado ao serviço de “alguém”, que não diz quem é, mas que todos sabemos a quem se refere. Na edição do Sol, de 10 setembro 2022, de que é diretor executivo adjunto, AS dizia que “já é mais estranho que pertença – ou tenha pertencido – ao gabinete do primeiro-ministro [referindo-se a mim], tendo em conta que esse é um lugar político e Portugal apoia ativamente a Ucrânia e condena veementemente a invasão russa.”

Mais à frente, AS dizia (teve de colocar a acusação na boca de outro) que “Quando a guerra começou, o prof. Armando Marques Guedes… disse que havia «espiões» ao serviço da Rússia no gabinete do primeiro-ministro.” Um mais um ainda continua a ser igual a dois. Como se Marques Guedes fosse o oráculo do regime! Sabemos onde é que são colocados administrativamente os funcionários dos serviços de informações. Portanto, tendo eu estado lá colocado, eu era espião e, como tal, estava a cometer uma traição.

Nunca pertenci ao gabinete do primeiro-ministro, nunca exerci cargos políticos, nunca fui membro de qualquer serviço de informações. Como tal, AS mentiu. Recorreu à mentira para me denegrir e enganar os seus leitores. Foi um aldrabão. Desafio AS a tornar público esse segredo (a sua especialidade). Se não for capaz de o fazer terei de o apelidar de canalha, desafiando-o desde já a processar-me judicialmente perante tão grave difamação que lhe acabo de fazer. Veremos se terá coragem.

Uns dias mais tarde, o Prof. Marques Guedes fez uma autocrítica pública sobre o que tinha dito relativamente a mim. AS podia ter feito uma autocrítica e pedir-me desculpa, mas não fez. Por isso, terei mesmo de o apelidar de canalha.

Aproveitando a queda do avião onde se deslocava o Sr. Progizhin, voltou novamente à carga contra mim, na edição do Sol de 1 de setembro de 2023. Começou candidamente por dizer que tinha “muito respeito por opiniões desalinhadas”, mas a intenção desse disclaimer era pérfida, qual gato escondido com o rabo de fora. Por o meu camarada MG Agostinho Costa ter também elencado uma putativa “conspiração africana”, como um dos possíveis autores da sabotagem do avião, admitamos que as coisas foram postas nesses termos, AS sugeriu que “parecem ambos ler pela mesma cartilha. Assim, é legítimo duvidar que pensem mesmo pela sua cabeça”. O facto de eu dizer algo parecido com o que diz o MG Agostinho Costa estou a regurgitar “lines to take” encomendadas. Topam?! Seguindo essa mesma lógica, quem diga que o Putin foi o autor do atentado também estará a regurgitar uma cartilha.

Curiosamente ou não, AS não mostrou qualquer indignação em ouvir dizer que o avião do Prigozhin tinha sido abatido por um míssil (com desenhos e tudo em prime time), na mesma altura em que o porta-voz do Pentágono negava a possibilidade de um míssil ser o responsável pela queda do aparelho. AS desligou a televisão nesse momento?! E não ficou incomodado quando alguém disse que os soldados russos não têm meias? Que aprendem a manusear o armamento pela Wikipédia (afinal até sabem o que é a Wikipédia), que não há problema em bombardear nuclearmente a Rússia porque o seu equipamento nuclear é obsoleto e a Rússia afinal são só cinco cidades, etc.

AS não percebeu ainda que anda há um ano e meio a ser enganado. Como ator da comunicação social tem o dever e a responsabilidade de não enganar os seus leitores. Onde mora a sua isenção e a sua ética? Provavelmente para o “isento” AS há propaganda boa “he’s our son of a bitch”, e propaganda má. Percebe quando falo em honestidade intelectual? Não dá para ter uma pontinha de pudor?! AS faz parte do grupo de mensageiros que alinharam sem pudor na ideia de criar na opinião pública a ideia de que este desafio colocado à Europa ia ser um “passeio no parque”. Afinal parece que o especialista em cartilhas é AS. Só faltava agora AS chamar a Tucker Carlson, a R. Kennedy Jr. e tantos outros espiões do Kremlin e, já agora, subscritores do PCP. O Arquiteto Saraiva é um triste mentiroso. Ainda o veremos um dia destes a fundar mais algum pasquim financiado por capitais angolanos.

 

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

TESOURINHOS DEPRIMENTES (2)

MAFALDA ANJOS É INTELECTUALMENTE POUCO SÉRIA E IGNORANTE

A Dr.ª Anjos é das criaturas que volta não volta me dedica mimos e encómios no espaço cibernético, aos quais nunca respondi. Mas agora vai ter de ser. Referindo-se a afirmações que proferi na CNN sobre o regime político russo, publicou no seu mural de Twitter (https://x.com/manjos/status/1694816594919080085?s=48&t=uFhOe-BGv0ltc1k9O1vsHA) o seguinte:

“O major general Carlos Branco disse há minutos, com enorme convicção, na antena da CNN que “a Rússia não é uma ditadura”. Estes conceitos de democracia são mesmo muito elásticos (para usar um eufemismo elegante).

Passarei a explicar porque é que a Dr.ª Anjos é intelectualmente pouco séria e ignorante.

Percebo muito bem a intenção de ter dito que eu disse que “a Rússia não é uma ditadura”. Recorrendo a um truque sujo, espera ter uma chusma de seguidores a dizer cobras e lagartos sobre mim. Por outras palavras, recorrendo a uma linguagem coloquial quis "enterrar-me a pasta"! Eu disse de facto o que ela disse e disse também outras coisas, que ela convenientemente omitiu. Eu também disse que “A Rússia é uma autocracia, é uma democracia Iliberal e expliquei o que é uma autocracia e como é que um autocrata (referindo-me a Putin) subverte o normal funcionamento das instituições. É desonesto omitir esta parte da intervenção, para não dizer outra coisa.

Parece que em matéria de ciência política, a Dr.ª Anjos consegue ser ainda mais ignorante do que eu. Não sabe distinguir uma autocracia, uma democracia iliberal de uma ditadura. Para ela, não há diferenças entre o regime da Rússia e da Coreia do Norte. Não sou pago para lhe ensinar, mas ela que vá ao site da Varieties of Democracy https://v-dem.net/publications/democracy-reports/), uma das grandes referências académicas mundiais sobre regimes políticos (insuspeita de ser pró-russa) e veja o que lá está sobre os regimes políticos na Ucrânia e na Rússia. Pode ser que aprenda alguma coisa. A ignorância é a maior aliada da arrogância. Quando quiser aprender alguma coisa sobre o regime político da Ucrânia e da Rússia estarei à disposição para lhe ensinar. Pode ser que descubra, por exemplo, que existem muitas semelhanças entre as culturas políticas dos dois países, e que a Ucrânia não é nem foi a democracia liberal que ela, porventura, pensará que é. Pelo exposto, a Dr.ª Anjos perdeu uma boa oportunidade de estar calada evitando expor publicamente o seu desconhecimento e ignorância.

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

TESOURINHOS DEPRIMENTES (1)




Tenho sido ao longo dos últimos meses objeto de um “carinho especial” por parte de algumas “personalidades” da nossa praça. Não sou um seguidor assíduo de redes sociais, mas não posso fechar os olhos aos comentários que algumas dessas “personalidades” têm tido a gentileza de fazer sobre mim e/ou sobre o meu pensamento, e que vão chegando ao meu conhecimento através de amigos. Nas calmas e paulatinamente, passarei a retribuir esse “carinho”. Nunca tomarei a iniciativa de aborrecer alguém que não me tenha provocado primeiro.  

SÓ CONTARAM PR’Á VOCÊ

Este primeiro post é dirigido ao Prof. Pereira Coutinho (PC), docente na Nova School of Law, especialista em Direito Internacional (DI), que tem aparecido na televisão a comentar tudo e um par de botas. Parece ter-se autopromovido a especialista em questões de segurança e defesa e assuntos militares. Eu percebo a tentação de sair do carril do DI para temas próximos, mas diferentes, nomeadamente, Relações Internacionais e geoestratégia.

Não sei se o Prof. PC frequentou algum curso de Estado-Maior, conhece os postos da tropa, ou sabe distinguir um morteiro de um obus. Mas como vale tudo, para o caso é irrelevante. O que importa é aparecer na televisão. O Prof. PC parece querer promover-se e aumentar as visualizações das suas publicações no Twitter à minha custa, publicando posts em que, sem ser mal-educado ou insultuoso, pretende passar-me certificados pouco abonatórios. Está na altura de lhe retribuir a consideração.

O agora recauchutado especialista em questões de segurança e defesa, veio há uns dias anunciar na TV que tinha havido uma ofensiva de inverno russa. Segundo ele:

“Houve também uma ofensiva russa de inverno que fracassou e que conseguiu ainda obter resultados piores daqueles que os ucranianos conseguiram até agora”


Houve também uma ofensiva russa de inverno?! Onde? Não dei por ela. As descobertas que o Prof. PC faz. "Só contaram pr'á você". 

Insatisfeito, forçou a tecla:

“Como vimos na ofensiva russa de inverno demorou também muitos meses a ocupar esta cidade [Bakhmut]”

Como vimos?! Quem? Só se foi ele. mais ninguém viu. A captura de Bakhmut enquadrava-se numa ofensiva russa de inverno que não existiu? Não invente! Convinha informar-se antes das intervenções televisivas. Pergunte-me, que eu esclareço-o. Nunca me arrependo de fazer o bem. 

São os riscos de pretender comentar assuntos que extravasam o Direito da União Europeia, meta dados, ou tribunais em países lusófonos. Seriedade e honestidade intelectual precisam-se cada vez mais.

domingo, 22 de maio de 2022

A DOR DE COTOVELO

 

Do seu refúgio de oração, José António Saraiva (JAS) opinou, que “A cobertura televisiva da guerra na Ucrânia apresentou uma novidade desde o início: o aparecimento dos militares-comentadores. Depois dos políticos-comentadores, que quase tiraram o espaço aos jornalistas, foi a vez de os militares-comentadores surgirem em força. Sobretudo os generais, que pareciam brotar do chão. Simultaneamente, um comentador que em guerras anteriores se tinha distinguido por estar bem informado e ter um bom conhecimento do material bélico – Nuno Rogeiro –, nesta guerra da Ucrânia foi abafado pelos militares, mal se ouvindo a sua voz”.

Tanto incomodo por os militares serem chamados a falar de temas militares e a comentar as guerras nos canais de televisão, algo que se faz de modo continuado desde a guerra do Golfo noutros países, mas que JAS parece desconhecer. Tamanha inconformidade com o progresso. Bom, se for noutros sítios não há problema, aqui é que não. Manda jornalistas para o desemprego. Os militares estão a tirar o ganha-pão aos jornalistas. Já não bastavam os comentadores. É mais simpático chamar tanques aos Carros de Combate, etc. O artigo de JAS configura uma reação corporativa de contornos provincianos. Falta-lhe cosmopolitismo.

Percebo que JAS não perceba que o que se diz hoje (exercícios especulativos informados) possa não se concretizar amanhã. O mundo que rodeia JAS provavelmente não se movimenta. Na guerra as realidades fluem, são dinâmicas, e exigem uma reavaliação permanente. O que é hoje, pode não ser amanhã. E na verdade normalmente não é. Quando o que está planeado não se concretiza chamamos-lhe na gíria militar “conduta”. Aprender a responder com agilidade quando os acontecimentos não correm conforme o planeado. Quantas vezes isto nos acontece no nosso dia-a-dia? Mas JAS é um tipo exigente. Quer, exige certezas numa realidade onde elas não existem. Não é o único. Há mais como ele.

Percebo a incomodidade de JAS com os alegados enganos dos outros, porque ele nunca se enganou. Acertou sempre, embora não seja essa a opinião do Tribunal Judicial de Lisboa (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Ant%C3%B3nio_Saraiva). Por isso temos mesmo de o levar muito a sério. Percebo que JAS não seja convidado para estes debates sobre temas militares, porque quando teve a oportunidade de aprender umas coisas sobre tropa andou convenientemente pelos bancos da Escola Superior de Belas-Artes.

Percebo muito bem por que JAS tem tanta preocupação com as imprecisões dos analistas militares (sobre assuntos em movimento), e tanta condescendência com as informações prestadas pelos serviços secretos ingleses e ucranianos quando anunciam a invasão da Ucrânia pela Bielorrússia (que nunca se concretizou), a falta de munições dos russos (só têm munições para uma semana. A ser verdade, que alívio para os pobres dos soldados ucranianos entrincheirados no Donbass), os 30 mil soldados russos já mortos (e mesmo assim consegue manter uma capacidade ofensiva), etc., etc. Com esses “enganos” – deliberados – JAS consegue dormir bem, não se sente incomodado, nem levanta a sua pluma. Em vez disso, reage como uma “tia da linha”: “Depois de um dia a ouvi-los, uma pessoa fica exausta, baralhada, com uma enorme confusão na cabeça, sem fazer nenhuma ideia do que está a acontecer”. JAS vive no mundo das suas verdades, em que não há desinformação, manipulação, operações de informações e psicológicas. Isso não o “chateia”. São minudências. Mas os militares a comentar a guerra na televisão é que não, sobretudo quando questionam aquilo em que acredita. Talvez devido à idade, JAS perdeu flexibilidade e cristalizou no ortorrômbico. É um tipo antiquado que vive num mundo que já não existe, nas que temos de continuar a aturar porque está num pedestal, a que nem todos podem aceder, e porque vivermos em democracia. Faz parte das regras do jogo. Apenas por isso.

terça-feira, 5 de abril de 2022

OS PUTINISTAS CHARLATÃES (DOIS)

 



Este é o segundo (e último) texto que escrevo (pode ser lido independentemente do primeiro), em resposta à peça de Maria Henrique Espada (MHE), publicada na Revista Sábado, no dia 31 de março de 2022, com o título “Os Militares. E ao menos acertam? Nem por isso”, em que procura desacreditar as declarações de três majores-generais à luz da “realidade”, que ela própria construiu. A autora apresenta excertos do “Major-General” e depois procura contrastar com a (sua) realidade, como se a sua realidade fosse a verdade absoluta, suprema e incontestável.

Não deixa de ser curioso este exercício sobre os prognósticos destes três majores-generais, condenados na praça púbica, em várias circunstâncias, por delito de opinião. A seleção criteriosa dos excertos, à semelhança de outros devaneios críticos, apresenta a mesma impreparação e desconhecimento de outras tentativas de descrédito. Desmontarei a “realidade” inventada por MHE, apenas naquilo que na peça me diz respeito.

Eu disse (28 de fevereiro, CNN Portugal)

“[Sobre o apoio ocidental] é uma operação logística extremamente complexa e de resultados duvidosos, uma vez que as forças russas controlam os acessos a Kiev, neste caso em particular, e controlam as entradas no país. Tenho muitas dúvidas sobre o sucesso desta operação de apoio.”

MHE contrapõe:

“A operação de apoio foi bem-sucedida. A Rússia ainda não controla, um mês depois destas declarações, as entradas no país, nem controlou nunca todos os acessos em Kiev. Chegaram à Ucrânia drones Bayraktar TB2, misseis Stinger e Javelin, e. agora helicópteros Mi-17. Etc. Tudo somado, na ordem das dezenas de milhares.”

A minha resposta

MHE está confusa e baralhada. Uma coisa foi a ajuda militar proporcionada ao longo dos anos à Ucrânia, a partir de 2014, que serviu para se preparar para o confronto com os separatistas no Donbass (não é por acaso que aí se concentrou o grosso das suas forças), outra coisa é a ajuda militar proporcionada em pleno conflito, depois de iniciadas as hostilidades. O meu comentário refere-se ao segundo caso, a “realidade” de MHE refere-se não sei bem a quê. Talvez ao primeiro. “A operação de apoio foi bem-sucedida"? qual? a primeira ou a segunda? MHE sabe quantos helicopteros foram fornecidos à Ucrânia pelas potências estrangeiras depois de iniciadas as hostilidades? Se sabe, devia ter partilhado essa informação com os leitores. Ou é sim porque sim?!

Mesmo assim vou continuar a esclarecer. A esmagadora parte dos Bayraktar TB2, misseis Stinger e Javelin, adquiridos/dados por potências estrangeiras à Ucrânia chegou ao país antes de se iniciar o conflito, e não depois. Se o fornecimento desse equipamento militar em plena campanha militar tivesse correspondido às expetativas dos ucranianos, Zelenski não estaria permanentemente a queixar-se da sua falta. Não teria lamentado na Cimeira da NATO, o facto de a Ucrânia estar à espera havia 31 dias por essa assistência (https://rr.sapo.pt/noticia/mundo/2022/03/27/o-que-esta-a-apanhar-po-zelensky-pede-1-dos-tanques-e-avioes-da-nato/277980).

O equipamento que a Ucrânia pede e necessita não era para ser utilizado primordialmente em Kiev, mas nos locais onde se combate, onde é mais preciso. Talvez MHE tenha uma maneira milagrosa de fazer chegar esse equipamento, por exemplo, às unidades cercadas em Mariupol ou no Donbass. Se tem, que explique aos ucranianos. Eles iriam gostar de saber.

MHE não sabe que o controlo de uma região se pode fazer de várias maneiras (para além da presença física, pode ser feito por vigilância, fogos, etc.). O controlo de uma região não se faz exclusivamente pela presença física. Para reforçar as minhas “muitas dúvidas sobre o sucesso desta operação de apoio”, podíamos acrescentar a destruição de uma fábrica de manutenção de aviões perto de Lviv. Mesmo que os helicópteros venham desmontados, será agora muito mais difícil colocá-los a operar. Será certamente, muito mais moroso (https://sicnoticias.pt/mundo/conflito-russia-ucrania/varias-explosoes-perto-do-aeroporto-de-lviv). E já agora, na linha das “realidades” de MHE, recordo os acontecimentos na base militar de Yavoriv (https://en.wikipedia.org/wiki/Yavoriv_military_base_attack).

 

Eu disse (15 de março, CNN Portugal)

“O caso mais crítico nesta altura parece ser Mariupol. E parece que Mariupol é capaz de estar por horas. Provavelmente amanhã teremos novidades relativamente a Mariupol”

MHE contrapõe:

“Há duas semanas, a queda de Mariupol não estava por horas.”

A minha resposta

Como é explicito nas minhas palavras, o “prognóstico” foi muito cuidadoso, e cheio de condicionalismos. Não foi uma afirmação. “Parece”, “é capaz de” ou “provavelmente”, não são afirmações. Um dos elementos desse condicionalismo tinha a ver com a adesão dos combatentes ucranianos em Mariupol a uma proposta russa de rendição, que nessa altura se perspetivava que pudesse ocorrer (como aconteceu hoje com a rendição de mais de 260 fuzileiros). O “provavelmente amanhã teremos mais novidades,” tinha a ver com essa ocorrência, que não se verificou. Os comentários de MHE são mesmo difíceis de atingir.

 

Eu disse (15 de março, CNN Portugal)

“Este movimento [do ataque russo]. Até agora, tem-se limitado apenas a ataques aéreos perfeitamente identificados, alvos militares, digamos alvos legítimos”

MHE contrapõe:

Quatro dias antes, já o alto comissariado da ONU para os Direitos Humanos dizia que “os civis estão a ser mortos e feridos no que parecem ataques indiscriminados, através de misseis, artilharia pesada e ataques aéreos” em áreas residenciais e incluindo em “escolas, hospitais e creches”

A minha resposta

A resposta seria muito longa. Ficam apenas duas fotografias de unidades ucranianas numa escola/infantário (ver no início do texto. A legenda em russo significa mais ou menos isto: horas de descanso para os rapazes que estão cansados e sem canção de embalar). Quantas dezenas de imagens/vídeos quer MHE mais, para lhe provar que as forças ucranianas usaram zonas residenciais para combater? Atenção que não estou a fazer um juízo de valor sobre esse comportamento. Estou apenas a sublinhar que aconteceu, sem qualquer margem de dúvida. A evidência é tanta, que só posso ter pena da pobreza argumentativa de MHE. Faça zapping e talvez ainda consiga as imagens do centro comercial em Kiev, que servia de “garagem” militar, ou de militares ucranianos no topo de prédios em posições de tiro armados com Javelines.

 

Eu disse (22 de março, CNN Portugal)

“As forças do batalhão Azov querem manter os civis dentro da cidade como escudos humanos. Houve troca de tiros entre as forças ucranianas e o batalhão Azov, inclusivamente houve um tenente-general das forças ucranianas que foi morto.”

MHE contrapõe:

Foi impossível encontrar qualquer fonte ocidental com referência a este evento ou outro semelhante. Encontra-se apenas uma publicação no Ministério da Defesa Russo, qua ainda assim fica aquém, e segundo a qual “apesar de todos os esforços de corredores humanitários pelos Ministérios da Defesa, as unidades de combate neonazis em Mariupol impedem a saída de civis, usando-os como escudos humanos”.

A minha resposta

Então para MHE só as fontes ocidentais são boas?! As outras não prestam? Há fontes enviesadas (russas), e fontes idóneas (ocidentais)? Só são idóneos os relatos da Christiane Amanpour mesmo quando, dentro do estúdio, surge com carros de combate a passar atrás dela, como se estivesse a viver o frenesim do campo de batalha, da linha da frente?

A propósito, ver a sátira feita sobre o assunto em Wag the Dog (https://www.imdb.com/video/vi42121497/?playlistId=tt0120885&ref_=vp_rv_ap_0)?

O general em causa, de nome Yuriy Sodol, na verdade não morreu, ficou apenas ferido no contexto dos acontecimentos que referi. A informação que proporcionei não estava correta, mas sim a situação militar que provocou os ferimentos.  

(https://tsargrad-tv.turbopages.org/tsargrad.tv/s/news/zachem-vsu-udarili-po-shtabu-azova-ukrainskie-voennye-mstjat-boevikam-nacbata-za-rasstrely-basurin_506254), ou ainda (https://darik.news/en/ukrainian-troops-deal-a-deadly-blow-with-point-u-on-their-nationalists-from-azov-video.html). Parece só ser possível saber quem morre no lado ucraniano quando são condecorados postumamente. https://en.lb.ua/news/2022/03/01/9573_zelensky_awarded_12_defenders.html.

Não me parece de todo uma decisão condenável. Faz parte da guerra proteger informação, de modo a não afetar o moral dos combatentes. Mas temos de perceber que quando os contendores não abordam certos acontecimentos, normalmente desfavoráveis, não significa que estes não tenham ocorrido. 

A utilização de civis em Mariupol como escudos humanos está bastante documentada. Aqui vai apenas um caso (https://youtu.be/rLZ2ZzoD-W0). Quantos mais quer MHE? Para jornalista ficava-lhe bem mais alguma independência, e sentido crítico. Viver em democracia significa ser tolerante com a mediocridade.