A Teoria do Regabofe Aplicada ao Recrutamento dos Cargos Dirigentes do Ministério da Defesa Nacional (MDN)
Os
cargos dirigentes a que nos referimos no título são os de Diretor-Geral e de Subdiretor-Geral.
Passa-se algo de absolutamente insólito (e penso que de inédito) no MDN. O
Diretor-Geral de Defesa Nacional (DGPDN) encontra-se em funções, em regime de
substituição, há 1440 dias quando a lei estipula que os cargos dirigentes podem ser exercidos em regime de
substituição, entre outras situações, por 60 dias sobre a data da vacatura do
lugar, salvo se estiver em curso procedimento tendente à nomeação de novo
titular.
Entretanto, em dezembro de 2013 houve um concurso (ano
e meio após o incumbente do cargo ter sido nomeado em regime de substituição)
com vista ao provimento definitivo do cargo que foi cancelado após as
entrevistas, sem que os entrevistados tenham alguma vez sido informados dos
motivos do cancelamento.
O cancelamento do concurso pelo então MDN teria sido
uma retaliação pelo facto do seu protegido, leia-se o DGPDN em regime de
substituição, por ele nomeado há mais de ano e meio, não fazer parte da lista
curta. Era conhecida a proximidade entre o DGPDN e o então MDN. O Presidente da
CRESAP trocou-lhes as voltas.
Em julho de 2015, já no estertor da governação
PSD/CDS, foi lançado um novo concurso para DGPDN. Com a previsível (nessa
altura) vitória do PS, o incumbente do cargo decidiu não concorrer, para não
passar pela humilhação de não integrar novamente a lista curta. Não lhe passava
pela cabeça que o MDN de um futuro governo PS viesse também a ser um seu grande
amigo do peito.
Quando o novo MDN – do governo PS – se apercebe que o
seu amigo do peito não concorreu ao cargo que ocupava em
regime de substituição e, por isso, estava fora da corrida decide cancelar o
concurso argumentando que o perfil de
competências definido pela anterior tutela não preenchia as exigências que se
colocavam presentemente ao desempenho da função de diretor-geral de Política de
Defesa Nacional.
À presente data, passados cerca de 90 dias de cancelamento do concurso
(e da confirmação do incumbente em regime de substituição) ainda não foi
lançado um novo procedimento concursal preparando-se o MDN para protelar no
cargo, como fez o seu antecessor, o atual incumbente do cargo…e amigo do peito.
É evidente e conhecida a existência de um triângulo de grande proximidade
(nomeadamente geográfica) entre o antigo e o atual MDN com o DGPDN ao ponto de violarem
descaradamente a lei. O atual MDN repete a “façanha” do seu antecessor, algo
impensável numa democracia saudável.
Estamos todos na expetativa em saber qual poderá ser o
conteúdo da nova carta de missão, quais serão as novas exigências que entretanto se vieram a colocar
para o desempenho daquele cargo. Para já, o MDN fez saber que militares e diplomatas
não poderão ser DGPDN por não serem isentos e refletirem posições
corporativas.
Fica-nos igualmente a curiosidade em saber qual poderia ter sido
a reação dos diplomatas se o ministro dos Negócios Estrangeiros tivesse
proferido declarações semelhantes relativamente à impossibilidade dos diplomatas
ocuparem cargos dirigentes nos diferentes órgãos do MNE, nomeadamente de
diretor-geral. O que pensarão os militares quando souberem que a sua tutela os
pretere para cargos no MDN? Pagaria para ver o MNE a fazer o mesmo.
Espantam-nos estas declarações dada a reação virulenta
do MDN contra as alegadas discriminações praticadas no Colégio Militar
relativamente à orientação sexual dos alunos, que levaram à demissão do antigo CEME. Com
este comportamento, o sr. Ministro revela possuir um sentimento de discriminação
muito seletivo.
Esperamos ardentemente pela nova carta de missão, para
ver se o Sr. ministro tem coragem de pôr no papel aquilo que já enunciou
publicamente reiteradas vezes. Estamos muito curiosos, sobretudo em saber quem
em Portugal poderá estar mais habilitado em matéria de planeamento militar de
defesa, cooperação técnico-militar, relações internacionais de defesa, etc. que
militares e diplomatas. Recordo que as exigências políticas do cargo de
Diretor-Geral não são comparáveis às de Ministro ou de Secretário de Estado.
Mas as situações de regabofe não se cingem ao caso do
DGPDN. A nomeação para o cargo de subdiretor-geral de Defesa Nacional é outro
caso gritante. A atual incumbente do cargo, conseguiu ser nomeada pelo MDN com
apenas oito meses de função pública, em detrimento de dois candidatos
extremamente capazes, com vários anos de DGPDN, larga experiência profissional
e provas dadas. Sabemos bem porque foi ela a escolhida. A razão não difere daquela enunciada para o caso anterior. Amiguismo, clientelismo e outras coisas parecidas. Mérito não foi...inquestionavelmente.
A cereja em cima do bolo foi a nomeação do
Diretor-Geral de Recursos de Defesa Nacional (DGRDN), durante muitos anos
Diretor-Geral de Pessoal e Recrutamento Militar. O DGRDN é por acumulação
Diretor Nacional de Armamento. Nesta situação participa (ou antes, deveria
participar) em vários fóruns internacionais no âmbito do armamento e das
indústrias de defesa, nomeadamente na Conferência de Diretores Nacionais de
Armamento, uma instância da OTAN. Devido às suas insuficiências linguísticas e
falta de conhecimento na matéria delega a representação nacional (manifestação
de bom sendo, diga-se de passagem) no seu subdiretor-geral para o Armamento.
Portugal deverá ser o único país da OTAN em que o incumbente do cargo não se
faz representar naquelas reuniões pelos motivos referidos.
Em consonância com o governo anterior, este MDN
continua a nomear para cargos dirigentes portadores de cartão de partido, mas
pertencentes à antiga maioria. Merece que se lhe tire o chapéu.
Alguns leitores deste texto que saibam que concorri
aos cargos de DGPDN e DGRDN e que não fui o nomeado poderão acusar-me ao escrevê-lo de
ressabiamento. É fácil urdir essa acusação. Para os que me conhecem sabem que o faço como um ato de cidadania. Limitei-me a apresentar fatos. Deixo
que cada um tire as suas conclusões.
A democracia
não é algo adquirido para sempre. Aprofunda-se e/ou degrada-se todos os dias.
Atos promíscuos como os apresentados não são um bom indicador da qualidade da
democracia em Portugal. Cabe a nós todos não deixar que se degrade. Isso só
acontece com mobilização e fiscalização dos atos daqueles que elegemos. Não os
podemos deixar governar sem o nosso escrutínio. Deixo o pensamento e o apelo.
Comentários
São aliás de espirito blindado ao que quer que seja.
Usualmente pequeninos, de mentes tacanhas e desprovidos
de um módico de auto-consciência,
pavoneiam-se armados em personagens de uma peça de teatro pouco edificante.
São a Nova Classe, produto do assalto ao Estado de partidos-empresa que vieram a servir de suporte para as suas mediocridades.
Contudo, movem-se montados nos seus míseros currículos.
Lindo Regime.